Val Kilmer é um daqueles nomes que, mesmo quando não está no centro dos holofotes, nunca deixa de ser lembrado. Dono de uma presença cênica magnética e uma carreira marcada por altos e baixos, o ator construiu um legado repleto de personagens marcantes, transitando por gêneros diversos — da comédia pastelão à ação, do drama ao épico histórico. Sua jornada artística revela não apenas talento, mas também coragem em se reinventar, mesmo diante de obstáculos pessoais e profissionais.
Faz exatamente um mês desde a morte do ator, cuja causa foi oficialmente declarada como pneumonia. Após o anúncio, muitos fãs e até mesmo pessoas que nunca haviam acompanhado sua carreira passaram a buscar seus filmes, curiosos para comprovar o talento do astro. Kilmer, que ficou eternizado por papéis marcantes como em O Santo e Batman Eternamente, já havia enfrentado uma longa batalha contra o câncer na garganta, diagnosticado em 2014. Por isso, esteve afastado dos holofotes por anos.
No entanto, aceitou o convite para retornar às telonas em Top Gun: Maverick, em uma emocionante e simbólica despedida. Desde então, sua participação no filme ganhou ainda mais significado. O legado de Val Kilmer permanece vivo, tanto na memória dos fãs quanto na nova geração que agora descobre sua arte. Vamos relembrar os principais filmes de Val Kilmer em ordem cronológica, destacando os papéis que definiram sua trajetória no cinema.
Início com humor: Top Secret! (1984) e Academia de Gênios (1985)
A estreia de Val Kilmer nas telonas não poderia ter sido mais promissora. Em Top Secret!, ele vive Nick Rivers, um cantor de rock que se vê envolvido em uma trama de espionagem nonsense. A sátira hilária, dos mesmos criadores de Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!, revelou seu talento para o humor físico e timing cômico. No ano seguinte, brilhou novamente em Academia de Gênios, como o irreverente Chris Knight, um gênio da tecnologia com alma de rockstar. Ambos os filmes tornaram-se cultuados com o passar do tempo, e Kilmer consolidou-se como uma nova estrela em ascensão.
A explosão em Top Gun (1986)
Foi como o gelado e competitivo Iceman, em Top Gun, que Kilmer ganhou o mundo. Ao contracenar com Tom Cruise, seu personagem trouxe uma rivalidade que marcou época, com direito a olhares desafiadores e frases afiadas. Mesmo sem ser o protagonista, roubou muitas cenas e eternizou sua imagem como o antagonista elegante e imponente. Portanto, o sucesso do filme impulsionou sua carreira de forma definitiva.
Fantasia e romance em Willow (1988)
Produzido por George Lucas e dirigido por Ron Howard, Willow – Na Terra da Magia trouxe Kilmer como Madmartigan, um espadachim atrapalhado e corajoso. O filme misturava aventura, fantasia e comédia, conquistando o público infantojuvenil da época. Foi também durante as filmagens que ele conheceu Joanne Whalley, com quem se casou. A química entre eles transbordava para as telas.

Transformação e intensidade em The Doors (1991)
Poucos atores arriscaram tanto quanto Val Kilmer ao aceitar interpretar Jim Morrison em The Doors, de Oliver Stone. E poucos foram tão bem-sucedidos. Ele cantou, gesticulou e praticamente incorporou o líder da banda, em uma das atuações mais intensas de sua carreira. A semelhança física e vocal impressionou até os integrantes originais do The Doors. Embora o filme tenha dividido a crítica, sua performance é considerada uma das melhores representações de músicos no cinema.
Presenças marcantes: Amor à Queima-Roupa (1993)
Em Amor à Queima-Roupa, escrito por Quentin Tarantino e dirigido por Tony Scott, Val Kilmer aparece apenas de relance, mas de forma simbólica. Ele interpreta a “consciência” do protagonista Clarence, na forma de Elvis Presley. Sempre à sombra, quase fantasmagórico, Kilmer dá um charme especial ao filme e mostra sua disposição para papéis inusitados. Ainda que breve, sua participação é lembrada com carinho pelos fãs.
Glória no velho oeste: Tombstone (1993)
Doc Holliday, o pistoleiro tuberculoso e sarcástico de Tombstone, é considerado por muitos como o maior papel de Kilmer. Ao lado de Kurt Russell, ele entrega uma performance carregada de ironia, charme e melancolia. Frases como “I’m your huckleberry” se tornaram icônicas. O faroeste, sucesso de crítica e público, consolidou o ator como um intérprete maduro e profundamente carismático.
O Santo (1997): o mestre dos disfarces
Kilmer assumiu múltiplas personalidades em O Santo, interpretando Simon Templar, um ladrão sofisticado que se envolve numa trama internacional. O longa exigiu que ele transparecesse diferentes facetas do personagem, em uma atuação versátil que passeia entre o charme e a manipulação. Embora o filme tenha recebido críticas mistas, sua performance foi amplamente elogiada.
Tensão realista em A Sombra e a Escuridão (1996)
Baseado em fatos reais, A Sombra e a Escuridão traz Kilmer no papel de um engenheiro britânico encarregado de construir uma ponte em uma região remota da África. No entanto, ele precisa lidar com dois leões assassinos que estão dizimando os operários. Ao lado de Michael Douglas, Kilmer entrega uma atuação sólida em um suspense envolvente e subestimado, que mistura terror animal com drama histórico.
Batman Eternamente (1995): um Cavaleiro das Trevas contido
Substituindo Michael Keaton, Val Kilmer vestiu o manto do Batman em Batman Eternamente, dirigido por Joel Schumacher. Sua interpretação trouxe um Bruce Wayne mais introspectivo e melancólico. Embora o visual do filme tenha pendido para o extravagante, com vilões caricatos, Kilmer tentou manter a sobriedade do personagem. Mesmo com o sucesso comercial, ele recusaria voltar ao papel na sequência.
No meio dos gigantes: Fogo Contra Fogo (1995)
Estar no mesmo elenco que Robert De Niro e Al Pacino não é para qualquer um. Mas em Fogo Contra Fogo, Kilmer se destacou mesmo entre titãs. Como Chris Shiherlis, um membro da quadrilha liderada por De Niro, ele vive um criminoso intenso e silencioso. Sendo assim, sua entrega ao personagem adiciona camadas à narrativa, tornando-o uma das presenças mais humanas do grupo.
Intriga e mistério em Déjà Vu (2006)
Em Déjà Vu, Val Kilmer volta a trabalhar com o diretor Tony Scott, ao lado de Denzel Washington. O filme, que mistura ação policial com ficção científica, explora a ideia de viagens no tempo para impedir um atentado. Kilmer interpreta o agente Pryzwarra, parceiro de Denzel, e entrega uma performance firme e contida. Foi um de seus últimos papéis de destaque em grandes produções antes de sua saúde começar a declinar.

O retorno triunfal em Top Gun: Maverick (2022)
Após uma longa batalha contra o câncer na garganta, que afetou drasticamente sua voz, Kilmer emocionou o mundo ao retornar como Iceman em Top Gun: Maverick. A participação foi curta, mas profundamente simbólica. Usando tecnologia de inteligência artificial para recriar sua voz, a cena entre Iceman e Maverick foi um dos momentos mais tocantes do filme, representando não só o reencontro dos personagens, mas também a resiliência do ator diante das adversidades.
O espelho da alma: Val (2021)
O documentário Val é uma peça rara e intimista. Produzido com imagens do próprio ator registradas ao longo de décadas, o longa revela os bastidores da fama, os conflitos internos, os desafios físicos e a paixão por atuar. Mais do que um making of da carreira, é um retrato sensível da alma de um artista. A sinceridade com que Kilmer encara suas dores e vitórias torna Val uma experiência comovente.
Um ator de muitas faces e um legado duradouro
A carreira de Val Kilmer é um retrato fiel do que significa ser um ator versátil. Ele não se contentou com a fama fácil ou papéis previsíveis. Arriscou, errou, brilhou e, acima de tudo, entregou-se de corpo e alma a cada personagem. Entre heróis e vilões, rockstars e pistoleiros, agentes secretos e cavaleiros das trevas, construiu uma filmografia rica, diversa e, sobretudo, inesquecível. Ainda que sua voz tenha se calado em parte, sua arte continua a ecoar nas telas — e no coração de quem ama cinema.