O ator Wagner Moura conquistou o prêmio de Melhor Ator por sua performance intensa e comovente no longa O Agente Secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho. A produção, ambientada durante a ditadura militar no Brasil, também rendeu a Mendonça Filho o prêmio de Melhor Direção, consolidando a força do cinema nacional em um dos palcos mais prestigiados do mundo.
Até então, o Brasil havia sido premiado apenas com duas atrizes: Fernanda Torres em 1986, por Eu Sei que Vou Te Amar, e Sandra Corveloni em 2008, com Linha de Passe. A conquista de Moura representa, portanto, uma virada simbólica e concreta para a presença masculina brasileira no festival francês, especialmente em um ano com concorrência acirrada. O ator disputava o prêmio com nomes de peso como Guillaume Marbeck (Nouvelle Vague), Aleksandr Kuznetsov (Two Prosecutors) e Benicio del Toro (O Esquema Fenício).
O Agente Secreto: um thriller político e emocional
Com estreia mundial em Cannes, O Agente Secreto recebeu nada menos que 13 minutos de aplausos do público presente em sua exibição. A crítica internacional não poupou elogios, destacando o desempenho de Moura como um dos mais poderosos de sua carreira — que já inclui sucessos como Tropa de Elite e Narcos. O filme também foi laureado com o prêmio da crítica da FIPRESCI e o Prix des Cinémas Art et Essai, oferecido por exibidores independentes franceses. Ao todo, foram quatro prêmios no festival, sinalizando o impacto profundo da obra no circuito internacional.
O longa é ambientado no Brasil da década de 1970 e acompanha Marcelo (Wagner Moura), um professor universitário e especialista em tecnologia que retorna à sua cidade natal, Recife, após anos de afastamento. Inicialmente em busca de paz e recomeço, ele se vê envolvido em uma trama densa de vigilância, perseguições e feridas abertas pela repressão militar. A busca pelo filho desaparecido se transforma em um mergulho no próprio passado e em um confronto com os fantasmas de uma era marcada por autoritarismo e censura.

Elenco forte e direção consagrada em O Agente Secreto
Além de Moura, o elenco reúne nomes consagrados e novos talentos do cinema nacional, como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Isabél Zuaa, Alice Carvalho, Hermila Guedes, Roberto Diogenes e Carlos Francisco. A presença de Kleber Mendonça Filho na direção reforça o peso artístico do projeto.
Sua abordagem sensível e politicamente engajada ressoa com força na narrativa de O Agente Secreto, que mistura elementos de suspense, drama histórico e reflexão social. O olhar de Mendonça Filho sobre a ditadura é menos panfletário e mais humano, apostando em silêncios, olhares e atmosferas tensas para construir a densidade do enredo.
Impacto internacional e previsão de estreia
A repercussão em Cannes foi tamanha que O Agente Secreto chamou a atenção de grandes distribuidoras internacionais. A NEON demontrou interesse imediato no longa e já adquiriu os direitos para distribuir o filme nos Estados Unidos. Já a MUBI será responsável pela distribuição no Reino Unido e em outros países da América Latina. A Vitrine Filmes, distribuidora do longa no Brasil, ainda não confirmou a data de estreia nacional, mas a previsão é que isso aconteça ainda este ano.
Caminho aberto para o Oscar?
Com dois prêmios importantes em Cannes e distribuição assegurada pela NEON, O Agente Secreto surge como forte candidato a uma indicação ao Oscar 2026. Nos últimos anos, a presença em Cannes tem sido um trampolim para produções independentes ganharem força na temporada de premiações. Em 2024, por exemplo, Emilia Pérez levou dois prêmios no festival e conseguiu boas indicações posteriormente.
Além disso, a NEON tem um histórico bem-sucedido com a Academia e sindicatos, o que pode beneficiar diretamente a campanha de O Agente Secreto. Abrindo assim, inúmeros caminhos para uma trajetória de premiações internacionais, como Melhor Filme ou em outras categorias como Melhor Ator e Melhor Direção.

Um marco para Wagner Moura com O Agente Secreto
A vitória de Wagner Moura em Cannes marca um novo patamar em sua trajetória. Reconhecido por seu engajamento político e sua busca por papéis desafiadores, o ator vê seu trabalho finalmente consagrado em um dos festivais mais importantes do mundo. Sua atuação em O Agente Secreto é intensa, dolorosa e contida — uma interpretação que, segundo críticos internacionais, revela camadas emocionais com precisão e profundidade raras.
Moura, que já foi premiado no Brasil e é conhecido por seu trabalho em produções internacionais como Narcos e Wasp Network, afirmou em entrevistas que considera este seu papel mais importante. “Esse personagem representa muita coisa para mim e para o Brasil. É sobre memória, sobre enfrentar o que fomos e entender o que somos”, declarou em Cannes.
Protagonismo global
O Agente Secreto é um reflexo maduro do potencial artístico do Brasil, de sua história recente e de seus talentos criativos. As conquistas em Cannes mostram que o cinema nacional está pronto para ocupar um espaço de protagonismo global. Um marco histórico que fortalece não só a carreira de seus envolvidos, mas também o lugar do Brasil no mapa do cinema mundial.